sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Banco CDD e suas contradições

Moro na Cidade de Deus e senti a necessidade de entender essa novidade que é o Banco Comunitário da Cidade de Deus. Saí por algumas ruas da comunidade e tive conversas informais com moradores e comerciantes em relação ao banco comunitário da CDD. Muitos deles não sabiam nem do que se tratava, então resolvi explicar o que eu havia entendido sobre o mesmo.


No meio de tantas conversas, resolvi por no papel as opiniões de quatro moradores, atribui número a eles, porque nem sempre gostam de divulgar os nomes. Os moradores 1, 3 e 4 são homens e comerciantes. O morador 2 é uma mulher, não comerciante.


Eis as perguntas que fiz:


1. Sabe da existência do banco comunitário da CDD?

Morador 1: Sim.

Morador 2: Sim.

Morador 3: Sim.

Morador 4: Sim.


2. Sabe como funcionará?

Morador 1: Sim.

Morador 2: Sim. Nós trocaremos o real pelo CDD e usaremos o mesmo , aqui, na comunidade da Cidade de Deus.

Morador 3: Sim.

Morador 4: Não.


3. Sabe a proposta do banco?

Morador 1: Sim.

Morador 2: Incentivar o comércio interno, gerando assim, melhorias, benefícios, emprego, enfim, um desenvolvimento na comunidade.

Morador 3: Sim.

Morador 4: Não


4. Quais benefícios acredita que terá?

Morador 1: Crescimento e maior renda para o comércio e empregados.

Morador 2: É uma bela iniciativa e um verdadeiro incentivo ao desenvolvimento sócio-econômico da Cidade de Deus.

Morador 3: Nada de bom.

Morador 4: Melhorar o bairro.


5. O que gostaria que o banco lhe proporcionasse?

Morador 1: Empréstimos com juros baixos para ter condição de mercadoria variável.

Morador 2: Mais desenvolvimento.

Morador 3: Financiamento dentro da realidade.

Morador 4: Desenvolvimento e crédito justo.


6. O banco representará algum problema paras ou para a comunidade?

Morador 1: Pode ser, se não for fiscalizado. Podem falsificar as notas.

Morador 2: Acredito que não.

Morador 3: Sim.

Morador 4: Não, só benefícios.


7. Há alguma desconfiança em relação ao banco?

Morador 1: Sim.

Morador 2: Por enquanto, não.

Morador 3: Não, só não sabia que o país possui duas moedas.

Morador 4: Não.


8. Já teve alguma experiência com o banco?

Morador 1: Sim

Morador 2: Infelizmente, ainda não, mas pretendo ter o mais rápido.

Morador 3: Não.

Morador 4: Ainda não.


Com essa pequena pesquisa pela comunidade, percebi que as opiniões sobre o Banco são bem diferenciadas, inclusive por falta de informação. Acredito que essa divergência ocorra também em função da divisão do território da Cidade de Deus de acordo com a prestação de serviços e os estereótipos criados. Eu, particularmente, não vejo grandes possibilidades com o Banco para a comunidade. Uma entrevistada artesã, por exemplo, me contou que não existe na Cidade de Deus um lugar onde possa comprar matéria-prima para fazer seus produtos, precisa ir até o Mercadão de Madureira. Além disso, na região em que moro e em outras, a moeda CDD não circula. Então, como este Banco está fortalecendo nossa economia local? Do mesmo jeito que as pessoas estão usando esta moeda, poderiam usar o Real. Isso apenas serve para demonstrar a presença da Prefeitura, de modo a aliviar um pouco a carência dos serviços que deveriam prestar.


Juliana Vidal

Um comentário:

Lívia Buxbaum disse...

Para enriquecer essa discussão sobre o Banco Comunitário da Cidade de Deus, segue uma interessante matéria publicada no site do Observatório de Favelas.
http://www.observatoriodefavelas.org.br/observatoriodefavelas/noticias/mostraNoticia.php?Section=5&id_content=1104