Moro na Cidade de Deus e senti a necessidade de entender essa novidade que é o Banco Comunitário da Cidade de Deus. Saí por algumas ruas da comunidade e tive conversas informais com moradores e comerciantes em relação ao banco comunitário da CDD. Muitos deles não sabiam nem do que se tratava, então resolvi explicar o que eu havia entendido sobre o mesmo.
No meio de tantas conversas, resolvi por no papel as opiniões de quatro moradores, atribui número a eles, porque nem sempre gostam de divulgar os nomes. Os moradores 1, 3 e 4 são homens e comerciantes. O morador 2 é uma mulher, não comerciante.
Eis as perguntas que fiz:
1. Sabe da existência do banco comunitário da CDD?
Morador 1: Sim.
Morador 2: Sim.
Morador 3: Sim.
Morador 4: Sim.
2. Sabe como funcionará?
Morador 1: Sim.
Morador 2: Sim. Nós trocaremos o real pelo CDD e usaremos o mesmo , aqui, na comunidade da Cidade de Deus.
Morador 3: Sim.
Morador 4: Não.
3. Sabe a proposta do banco?
Morador 1: Sim.
Morador 2: Incentivar o comércio interno, gerando assim, melhorias, benefícios, emprego, enfim, um desenvolvimento na comunidade.
Morador 3: Sim.
Morador 4: Não
4. Quais benefícios acredita que terá?
Morador 1: Crescimento e maior renda para o comércio e empregados.
Morador 2: É uma bela iniciativa e um verdadeiro incentivo ao desenvolvimento sócio-econômico da Cidade de Deus.
Morador 3: Nada de bom.
Morador 4: Melhorar o bairro.
Morador 1: Empréstimos com juros baixos para ter condição de mercadoria variável.
Morador 2: Mais desenvolvimento.
Morador 3: Financiamento dentro da realidade.
Morador 4: Desenvolvimento e crédito justo.
6. O banco representará algum problema paras ou para a comunidade?
Morador 1: Pode ser, se não for fiscalizado. Podem falsificar as notas.
Morador 2: Acredito que não.
Morador 3: Sim.
Morador 4: Não, só benefícios.
7. Há alguma desconfiança em relação ao banco?
Morador 1: Sim.
Morador 2: Por enquanto, não.
Morador 3: Não, só não sabia que o país possui duas moedas.
Morador 4: Não.
8. Já teve alguma experiência com o banco?
Morador 1: Sim
Morador 2: Infelizmente, ainda não, mas pretendo ter o mais rápido.
Morador 3: Não.
Morador 4: Ainda não.
Com essa pequena pesquisa pela comunidade, percebi que as opiniões sobre o Banco são bem diferenciadas, inclusive por falta de informação. Acredito que essa divergência ocorra também em função da divisão do território da Cidade de Deus de acordo com a prestação de serviços e os estereótipos criados. Eu, particularmente, não vejo grandes possibilidades com o Banco para a comunidade. Uma entrevistada artesã, por exemplo, me contou que não existe na Cidade de Deus um lugar onde possa comprar matéria-prima para fazer seus produtos, precisa ir até o Mercadão de Madureira. Além disso, na região em que moro e em outras, a moeda CDD não circula. Então, como este Banco está fortalecendo nossa economia local? Do mesmo jeito que as pessoas estão usando esta moeda, poderiam usar o Real. Isso apenas serve para demonstrar a presença da Prefeitura, de modo a aliviar um pouco a carência dos serviços que deveriam prestar.
Juliana Vidal
Um comentário:
Para enriquecer essa discussão sobre o Banco Comunitário da Cidade de Deus, segue uma interessante matéria publicada no site do Observatório de Favelas.
http://www.observatoriodefavelas.org.br/observatoriodefavelas/noticias/mostraNoticia.php?Section=5&id_content=1104
Postar um comentário